The Terror “Death is slow in the Great White Nothing”
O que mais me atraiu nessa série, é que o livro é baseado em fatos reais, a expedição realmente aconteceu e é considerada um dos maiores fiascos navais. O Capitão John Franklin liderou uma expedição de 134 homens que saiu de Greenhithe, na Inglaterra para encontrar a Passagem do Noroeste, que ligaria o Ártico ao Pacífico. Seus navios HMS Erebus e HMS Terror levavam os mais modernos equipamentos da época e mantimentos para vários anos, incluindo comida enlatada. O navio partiu em maio de 1.845 e nunca mais voltou.
Nesse período de pandemia, onde nos sentimos isolados, e temos a tendência a sentir ansiedade e depressão, com cada episódio da série foi possível sentir toda angustia e o medo daquela tripulação, afinal eles estavam num local inóspito, onde nada cresce, onde o sol não nasce por vários meses, e as temperaturas com os ventos a noite podem chegar a -40ºC.
Outro detalhe muito interessante das cenas são os ângulos, pois os navios entram pela passagem e o gelo se fecha ao redor deles, pressionando o casco de todos os lados e fazendo o navio ir inclinando com o passar do tempo, e as cenas são filmadas com a linha do horizonte no ângulo que o navio está e esse pequeno cuidado com os detalhes é que faz de The Terror um deleite visual
O elenco da série também foi extremamente assertivo com cada um dos atores, até os menores papéis são desempenhados com excelência. Nos papéis principais, temos Jared Harris como o Capitão Francis Crozier, Tobias Menzies como o Comandante James Fitzjames e Ciarán Hinds que dá um show como o Capitão Sir John Franklin, em uma das cenas mais icônicas da série onde é possível ver todo o horror refletido em seus olhos.
Como eu já disse antes a série é muito real nos mínimos detalhes, e um detalhe muito importante dessa história são as latas de comida. Durante a série nós vemos que alguns membros da tripulação morreram de doenças como a pneumonia e tuberculose, o que de fato aconteceu, e era comum na época. Porém, sabemos hoje que as comidas enlatadas levadas pela expedição não foram seladas da forma correta ocasionando dois grandes problemas que afetaram profundamente esses homens. O primeiro problema, foi que solda usada para lacrar as latas causou envenenamento por chumbo nos tripulantes, causando além das dores físicas, paranoia, alucinação, confusão e perda de memória. O segundo problema foi que a comida começou a estragar, e os tripulantes que comiam diretamente da lata poderiam contrair botulismo, uma bactéria que causa desde paralisia dos músculos e vômitos até a morte.
A série consegue captar todo esse horror vivido pela tripulação de Franklin que devido a imunidade baixa, sofreu com diversas doenças, e a insanidade temporária dos homens os levou a momentos de desespero.
Outra doença que vemos na série que os ingleses temiam, e que também afetou a tripulação de Franklin foi o escorbuto, causada por uma grave deficiência de vitamina C, seus sintomas incluíam hematomas, sangramento das gengivas, fraquezas, cansaço, dores no corpo e consequentemente a morte.
Bom já falamos sobre os pontos fortes da série, mas existe um que particularmente me incomoda. Na realidade nem é um ponto fraco da série já que este mesmo se encontra no livro, no qual a mesma é baseada. Mas para criar um drama ainda maior os tripulantes têm que sobreviver a uma criatura, que aterroriza as terras geladas do Ártico. Durante os episódios você só vê pedaços da criatura e isso é muito bom, porque causa aquele medo do desconhecido e te mantém apreensivo e alerta o tempo todo. A julgar pelas partes que apareciam eu achei que a criatura era um urso polar o que faria total sentido com o tom realista e detalhista da série. Porém com o passar dos episódios a criatura é revelada, e seu visual é meio decepcionante.
Mas no geral The Terror consegue retratar com perfeição gênero do horror vivido pela tripulação de Sir John Franklin. O terror é construído na sua mente, através das paisagens inóspitas e das situações vividas por cada personagem, montando um cenário de onde você não consegue escapar, e você vê os personagens se tornando fantasmas dos grandes exploradores que um dia foram.
Por Bárbara Silva
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